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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Permissão ou Vontade de Deus?

Amados, certa feita, conversando com certo teólogo abordamos o seguinte assunto: Permissão ou Vontade de Deus?
O renomado teólogo disse que os irmãos de José (filho de Jacó) agiram contra ele de acordo com a vontade Divina. Gostaria de analisar esse assunto juntamente com meus irmãos internautas. Vejamos a argumentação do meu amigo teólogo:

Gênesis 37

1. José trazia má fama de seus irmãos ao pai (má fama, resultado da vontade Divina) [2].
2. Os irmãos de José não falavam com ele pacificamente (vontade Divina) [4].
3. A família se revolta com os sonhos que José recebe de Deus (vontade Divina) [8 -11].
4. Planejaram matá-lo (vontade Divina) [20].
5. Lançaram-no na cova (vontade Divina) [24].
6. Venderam-no para os Ismaelitas (vontade Divina) [28].
7. Mentiram a Jacó (vontade Divina) [32,33].

Génesis 39

8. Mulher de Potifar pôs os seus olhos em José (vontade Divina) [7-11].
9. Foi preso, sendo inocente (vontade Divina) [39.20].

O teólogo para defender seus argumentos cita os versículos abaixo do capítulo 45 de Gênesis:

"4. E disse José aos seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então disse ele: Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito.
5. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque, para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face.
6. Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega.
7. Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar a vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento.
8. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito".

Análise da argumentação

1. Se José trazia má fama de seus irmãos era porque eles praticavam atos que Jacó reprovava, ou seja, desobedeciam as ordens e os ensinamentos do pai e automaticamente desobedecendo um mandamento Divino (Ex 20.12).
2. Os irmãos de José entenderam que José era mais amado pelo pai assim sendo eles já não falavam com o jovem pacificamente, ora Deus não é a fonte do mau e sim do bem.
3. Uma família que se revolta com os sonhos que Deus concede é porque não tem discernimento, nem o Espírito de Deus, o que torna-se impossível esta família estar enquadrada na vontade Divina.
4. Tentaram matá-lo, eles planejaram a morte do irmão, acreditar que foi vontade Divina é no mínimo absurdo, o plano para matá-lo foi permissão, mas o Livramento foi vontade Divina.
5. Lançaram-no na cova para prejudicá-lo, fisicamente e psicologicamente, agressão seja física ou psíquica não condiz com os ensinamentos de Cristo; amor, justiça, misericórdia e perdão.
6. Venderam-no, Deus constitui a família para viverem em harmonia, desfrutarem das bênçãos do SENHOR e juntos cumprirem os propósitos de Deus. Eles traíram José por inveja, orgulho e disputas banais, e tais coisas nada têm a ver com vontade Divina e sim permissão, pois Deus dotou o homem de livre arbítrio.
7. Mentiram sobre José para Jacó, ora a fonte da mentira não é Satanás? Como pode ser tal coisa vontade Divina?
8. A bela mulher de Potifar se apaixonou pelo jovem José, mesmo sendo casada quis ela deitar-se com ele, o que se tivesse acontecido era um trágico caso de adultério. Deus condena o adultério (Ex 20.14). Quem cometesse tal ato, no AT, deveria ser morto (Lv 20.10). Portanto não há hipótese que seja vontade Divina, mas sim, mais uma cilada do nosso adversário tentando corromper a fé do nosso irmão José.
9. O jovem preferiu manter-se fiel à Deus, do que pecar, isso custou lhe muito, pois foi para prisão sendo inocente, sua reputação estava manchada (por um momento). A prisão foi resultado de calúnia e mentira o que afirmo mais uma vez nada tem a ver com a vontade Divina.

Conclusão

Em nenhuma das noves argumentações citadas pelo teólogo com base em Gênesis 45 versículos 4-8 estão relacionadas com a vontade Divina e sim, com a permissão do Todo-Poderoso, pois apesar dos versículos citados em princípio lhe dar razão, não podemos esquecer que a bíblia toda tem que ser analisada, o contexto é fundamental para qualquer interpretação dos textos sagrados, o estudioso que não atentar para isso cometerá um grave erro o que eu chamo de "suicídio teológico", um termo um tanto duro, mas expressa a realidade e gravidade (Ap 22. 18,19).

Mas para que não fique nenhuma dúvida, vejamos o que a bíblia diz: " E José lhes disse: Não temais; porque, porventura, estou eu em lugar de Deus?
Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande" (Gn 50. 19,20).
Em Gênesis capítulo 50, após a morte de Jacó os irmãos de José ficaram aflitos pensando que ele se vingaria deles, imediatamente enviaram um pedido de perdão reconhecendo que pecaram, transgrediram e haviam lhe feito mal (v. 17).
José deixou bem claro que eles tentaram mal contra sua vida, mas Deus tornou o mal em bem. Glória a Deus!

O pedido de perdão dos irmãos e a declaração de José dissipa qualquer argumentação no que tange os erros, dos irmãos de José, serem a vontade de Deus para tais fatos cruéis, caso assim fosse revelaria um Deus sem personalidade, ora bom, ora mau. Esse não é o Deus das Escrituras Sagradas.
Deus pode provar seus filhos para revelar o que existe no coração do homem e também fortalecer a nossa fé, mas nunca para conduzi-los ao pecado. A natureza de Deus testifica que Ele não pode dar origem à tentação para pecar (Gn 22.1; Dt 8.2; 2Cr 32.31). Aconselho ao estudioso (caso não tenha feito) um estudo sobre os ATRIBUTOS DE DEUS.

Um exemplo clássico das Escrituras Sagradas é o pedido dos Israelitas a Samuel para que ele lhes constituísse um rei. Fica claro no texto que essa não era a vontade Divina, mas Deus concedeu conforme solicitaram. A vontade do Pai Celeste era reinar sobre os Israelitas, mas o Todo-Poderoso permitiu que o povo tivesse o seu rei humano, rejeitando assim o Rei Divino (1 Sm 8; 10. 17-27).
Deus deu ao homem o livre arbítrio e permite que ele siga o caminho que desejar mesmo que seja contrário a sua vontade, todavia quero ressaltar que há um dia em que Deus julgará a todos ( Mt 25.31,32; Rm 2.16; 1Co 4.5; Ap 20.12).

Portanto, Permissão ou Vontade Divina, em qual situação você se enquadra?

Deixo os versículos abaixo para meditação dos irmãos:
"Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o senhor prometeu aos que amam.
Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.
Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte" (Tg 1. 12-15).

Em Cristo,
Jeancarlo Figueiredo